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Zarabatana

Zarabatana

Zarabatana | De que se trata?

A zarabatana é uma prática que teve origem nos índios da Amazónia e que pode ser proposta a crianças e adolescentes, incluindo também aqueles que apresentam um quadro clínico motor grave (Paralisia Cerebral, tetraplegia).
Pequena e de muito fácil utilização, a zarabatana é considerada como um instrumento terapêutico extraordinário. Nela recorre-se a um tubo e é possível prescindir da utilização das mãos para conseguir expulsar setas (em formato de agulhas) para acertar num alvo colocado numa parede.
Trata-se de um dos materiais que mais permite a tomada de consciência do sopro e de progressos respiratórios. É um instrumento que serve, também, para terapia psicomotora, sendo ao mesmo tempo um óptimo meio lúdico para aprender a soprar, coordenar os movimentos e a aumentar os tempos de concentração.
Esta actividade terapêutica tem a vantagem de não necessitar de material muito elaborado, nem de um espaço particular, sendo por isso acessível à maior parte das instituições. Exige, contudo, um enquadramento seguro para que possa ser praticada. Os resultados são, geralmente, muito rápidos.
Os exercícios de sopro são diferentes e adaptados a cada criança. O acto de soprar serve igualmente para alterar posturas «viciadas» através das sensações e da memória cinestésicas. A memória cinestésica elabora-se graças a referências visuo-espacias reforçadas por uma correcção da postura.
 

Em pé, sentado ou deitado

A zarabatana apresenta um interesse terapêutico. Pode ser praticada pela grande maioria das pessoas, desde que se tenha em consideração:
    * O modo de evolução motora: podemos soprar na zarabatana em diversas posições: em pé, sentado numa cadeira, ou mesmo na sua própria cadeira manual ou eléctrica.
    * O grau de incapacidade motora, sabendo que um jovem com paralisia cerebral pode ser tão capaz como uma pessoa válida.

A exigência requerida pode efectivamente ser o sopro. Mesmo para crianças com Paralisia Cerebral, com défices associados, ao conseguir um mínimo de sopro, esta actividade torna-se muito interessante. Até porque neste caso, os objectivos são diferentes podendo rapidamente progredir para uma fase seguinte.

Existem vários comprimentos de zarabatana, sendo a mais usual no nosso grupo a de 63cm e 96cm. A zarabatana de maior comprimento facilita a pontaria mas em contrapartida requer mais energia para expulsar as setas. No entanto, a zarabatana mais pequena, facilita a expulsão através de um pequeno sopro mesmo que implique menos capacidade respiratória.

O atirador deve coordenar a posição correcta da boca no bucal da zarabatana e efectuar um sopro espontâneo e rápido, sem que haja fuga de ar, tornando-se difícil mas não impossível para jovens com movimentos involuntários. Para este efeito, criou-se um suporte estável em forma de “H” ou em forma de tripé, constituindo apoios essenciais que permitam minimizar os movimentos motores involuntários, contribuindo também para elaboração de referências corporais. Tomando consciência que os resultados são muito rápidos, a zarabatana torna-se uma actividade desejada por todos.

Numa primeira fase é necessário um mínimo de sopro para poder praticar, definindo objectivos adaptados a cada um.
 

Quando soprar é brincar

Na zarabatana a concentração é uma competência absolutamente primordial. Ela pode ser trabalhada e potencializada, precisamente num quadro de segurança, de confiança, de prazer, e de auto-controlo. Por vezes, adoptamos posições estratégicas na posição das crianças no espaço da sala para que estas não venham a ser distraídas, afastando-as de elementos perturbadores como estar perto das janelas, de um colega falador,etc.

A concentração deve imperativamente estar presente em toda a sessão. A concentração promove-se desde o princípio, colocando o material à disposição (zarabatana, suporte, setas,…), e repetindo um certo ritual para a colocação da seta, o posicionamento do corpo, a inspiração até a constituição do próprio sopro e a memorização de um ponto no espaço.

Interessante realçar que a actividade tem uma duração aproximada de 30 a 40 minutos, durante a qual efectuam 10 lançamentos de 6 setas. A permanência da postura, da coordenação, da visão e do sopro, permite trabalhar de uma forma consistente e activa a memorização e a concentração.

Os resultados são por vezes subjectivos quando por exemplo consegui-se alcançar uma boa pontuação com setas espetadas e espelhadas em volta do ponto mais alto. Efectivamente, uma boa pontuação não é sempre sinónimo de êxito, da mesma maneira que, em sentido mais clínico, as dificuldades em manter uma concentração permanente resulta de um conjunto de variáveis que traduzem uma certa instabilidade psicomotora. O projecto de concretizar uma boa performance parte sempre em conseguir referências espaciais estáveis, traduzidas por uma conjugação de setas num espaço geográfico muito próximo. Neste sentido, a pontuação pode revelar-se baixa mas os objectivos foram alcançados. As exigências de um bom empenho encontra-se na regularidade e optimização dos lançamentos que nos informa entre outros sobre o estado da pessoa.

Nesta actividade não há riscos, se tomar-mos em conta algumas precauções, como em todos os desportos de tiro e/ou lançamentos. Como tal, é fundamental criar uma zona de sopro na qual estão sentadas as crianças, e uma zona entre as zarabatanas e o painel de tiro sendo um espaço exclusivo para o psicomotricista que enquadra a actividade. O levantamento das setas, as indicações e a contagem dos pontos é apenas efectuada pelo adulto quando todos acabam de soprar as suas setas.

Os mais independentes, podem colocar autonomamente as suas setas no bucal da zarabatana, sabendo que as zarabatanas contêm um sistema de anti-retorno das setas evitando o perigo de ingestão, e protegendo consequentemente aqueles que apresentam perturbações da coordenação como no caso de crianças com Paralisia Cerebral.

A zarabatana proporciona resultados imediatos do sopro, e permite um trabalho de concentração interessante para o dominar. Sem perder o espírito lúdico desta actividade, ela serve de instrumento terapêutico em sessão programada semanalmente. Poder largar projécteis com maior precisão e maior regularidade para a realização de uma melhor performance pessoal constitui um desafio. Trata-se de preservar a sua integridade física e gerir melhor os recursos em função da deficiência, porque o prazer e o desejo de soprar faz progredir.

 

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