Quando uma banda se lança numa digressão que, além das motivações artísticas e performativas, chama também a atenção para a necessidade de criação de um ecossistema cultural mais inclusivo a nível europeu, esse pode bem ser o início de um terramoto com réplicas que se farão sentir em várias latitudes. Uma dessas réplicas vai acontecer já na próxima edição de um dos mais importantes eventos mundiais para os profissionais da indústria da música, o WOMEX, que decorrerá na Corunha.
No dia 27 de outubro, e no âmbito do programa de conferências daquela iniciativa, a recente digressão dos 5ª Punkada – na qual a banda pop/rock da APCC atuou em quatro festivais nacionais e quatro países no centro da Europa – vai ser o ponto de partida para uma conversa em torno da importância da acessibilidade de artistas e profissionais com deficiência em concertos ao vivo, tanto no palco como nos bastidores, e dos efeitos que este fator pode ter em áreas como a participação e a representatividade.
Paulo Jacob, coordenador do Departamento de Música, musicoterapeuta e guitarrista dos 5ª Punkada, vai apresentar a sua perspetiva multifacetada através de um testemunho em vídeo, marcando presença no centro de congressos Palexco a diretora técnica do Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI), Fernanda Maurício, que tem acompanhando de perto o grupo tanto nas dinâmicas criativas como em atuações ao vivo, e o fundador da Omnichord, Hugo Ferreira, que editou o disco “Somos Punks ou Não?” e é responsável pelo agenciamento da banda. Para trocar ideias com eles, estará Ágnes Margit Pethes, fundadora da empresa húngara de audiodescrição Add On.
Entre os temas abordados, estarão certamente os grandes obstáculos existentes à participação plena das pessoas com deficiência em eventos culturais, o potencial ainda desaproveitado de milhares de indivíduos com criatividade e competências para remodelar o sector musical ou a experiência concreta da digressão que levou os 5ª Punkada a tocar em Paredes de Coura, Coimbra, Figueira da Foz, Brno (Chéquia), Budapeste (Hungria), Ljubljana (Eslovénia), Cidade do Luxemburgo e Lisboa, bem como o ‘programa complementar’ que incluiu conversas com artistas e profissionais com deficiência, associações que trabalham na área e gestores de espaços musicais.
Aquela tournée decorreu integrada no projeto “Stage 4 Everyone”, uma parceria da APCC, Omnichord e Ccer Mais, com o apoio do programa MusicAIRE da Europa Criativa, e foi registada, em todas as vertentes referidas, pela produtora Casota Collective, com o objetivo de criar um documentário que pretende ser mais um contributo para a alteração das práticas e das condições físicas, intelectuais e sociais para artistas, técnicos e profissionais da música com deficiência.
Será a segunda vez que os 5ª Punkada ‘participam’ na WOMEX, depois de, em 2022, o documentário (realizado por Telmo Soares) que partilha o título com o primeiro disco do grupo e que mostra o seu processo de gravação ter sido selecionado para a secção de novos projetos e colaborações. Este filme foi, aliás, exibido antes de vários concertos da já referida digressão europeia e de várias outras atuações da banda, desde o seu lançamento em abril do ano passado.
Os 5ª Punkada são um dos quatro grupos musicais atualmente em atividade no âmbito do Departamento de Música da APCC, cujo trabalho se desenvolve através de intervenções ao nível da musicoterapia, educação musical adaptada e expressão musical adaptada. Pode saber mais em www.apc-coimbra.org.pt/?page_id=163.