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A primeira orquestra de samples sobre rodas do mundo tocou em Coimbra e é portuguesa. Ah, e os seus elementos têm paralisia cerebral

Ligados às MáquinasChamam-se Ligados às Máquinas. São nove instrumentistas. Fazem música utilizando exclusivamente samples sonoros que eles próprios escolheram e recolheram. Tocam as suas composições. São portugueses. E constituem a primeira orquestra de samples do mundo constituída por utilizadores de cadeira de rodas. Ah, e todos têm paralisia cerebral ou uma doença degenerativa.

Estiveram em concerto no Grande Auditório do Conservatório de Música de Coimbra no dia 22 de maio, naquela que foi apenas a sua segunda apresentação ao vivo, inserida nas comemorações dos 40 anos da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC). A partir de agora, tudo pode acontecer.

O grupo Ligados às Máquinas é, antes de qualquer outra coisa, um projeto musical inovador de temas originais que utiliza o sampling, com a particularidade de ter nascido no Departamento de Música da APCC. «Imagine a seguinte situação kafkiana: acordar numa bela manhã e descobrir que lhe tinham nascido umas asas… O que faria? Cortá-las-ia? Ou simplesmente experimentaria voar e descobrir o mundo pelos seus próprios meios? Neste coletivo, nove pessoas descobriram que tinham asas e simplesmente decidiram… voar», explica Paulo Jacob, musicoterapeuta e diretor musical do grupo.

Essencial para a atividade do coletivo é a forma como exploram as possibilidades da tecnologia no acesso e produção musicais. «Ao longo do tempo, fui percebendo que a tecnologia, nomeadamente o computador, determinado software e hardware poderiam auxiliar e trazer um novo mundo de possibilidades de criação e expressão musicais às pessoas com graves limitações motoras», diz Jacob, sublinhando que, no entanto, o mais determinante é a forma como os Ligados às Máquinas se distanciam… das máquinas, ao trabalharem com um conjunto de sons que resultam das suas próprias escolhas, produzindo desta forma um espetáculo sonoro único, fruto das suas vivências.

«Este novo projecto musical permite a cada um dos elementos a partilha das suas preferências musicais mais valiosas, contribuindo assim para uma espécie de melting pot sonoro, uma harmoniosa combinação de diferenças pessoais», sintetiza Paulo Jacob. E assim nasce esta manta de retalhos sonoros que mistura hip-hop e fado, rock e techno, blues e world music, música erudita e música concreta, sons da publicidade e séries televisivas.

O caminho, que começou com um desafio da Casa da Música à APCC, levou-os a um projeto sem paralelo no mundo, em que o pioneirismo performativo surge suportado por uma determinação exemplar de não deixar as limitações motoras impedirem o sonho da criação musical.

O Ligados às Máquinas é constituído por Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, António Abreu, José Ventura, Sérgio Felício, Luís Capela, Andreia Matos e Pedro Falcão e tem a direção musical de Paulo Jacob.

Ligados às Máquinas